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Plotino do Amor

 “O AMOR BROTA NAS ALMAS DESEJOSAS DE UNIR-SE A ALGUMA COISA BELA” (PLOTINO)

 Plotino (205-270). Filosofo neoplatônico, oriundo de família romana. Nasceu no Egito e descobriu o neoplatonismo em Alexandria. Seu objetivo era a renovação do platonismo. A filosofia de Plotino é a mais celebre do conjunto do neoplatonismo.

No fundo, trata-se de um misticismo calcado nas idéias de Platão, mas acrescentando-lhe uma teoria do Uno. Sua interpretação veio a influenciar fortemente o desenvolvimento do pensamento cristão medieval, sendo, por vezes, as três hipostases aproximadas da Santíssima Trindade.

Em Plotino o amor não visa definir a natureza de deus, mas indica uma das vias que conduz a deus. O Uno de Plotino não é amor porque é unidade inefável superior à dualidade do desejo. Mas o amor é a via preparatória que conduz à sua visão porque o objeto do amor é o bem e o Uno é o bem mais alto. O Uno seria então, o derradeiro termo sendo o objeto ultimo e essencial do amor. Embora não seja através do amor que o homem se uma a ele, e sim através de uma visão, uma intuição, onde o que vê e o que é visto se confundem tornando-se apenas um.

Semelhantemente a Platão, Plotino vê no amor a busca do belo, pois o feio, é contrario aos deuses e à natureza, pertence a uma ordem contraria. Porque a própria natureza deve sua gênese ao Belo. Mas os que se sentem atraídos a gerar na beleza do corpo lhes basta a beleza aparente, o belo terrestre. Estes não conseguem elevar-se a beleza primaria não podem amar aquela senão como imagem distorcida desta, os que não podem elevar-se a tal reminiscência, ignoram a causa dessa paxao.

No entanto, aquele que une à essa paixão o desejo da imortalidade que nossa alma imortal aspira, busca o Belo na atemporalidade, e, agindo segundo a natureza busca a criação no belo, no eterno, pela afinidade que este tem com a Beleza. Pois a eternidade é aparentada a esta. Aquele que não possui por si mesmo a beleza, anseia tornar-se belo gerando em beleza.

Os que amam os corpos mortais transviam-se, deslizam e ficam perdidos pelo caminho, ignoram aonde os conduz o amor, aonde os conduz o desejo sensual das paixões. Estes veneram a beleza terrestre e com esta se satisfazem, os outros, os que têm reminiscência da Beleza primeira, e não descuidam da beleza terrena, considerando esta apenas como reflexo da Beleza essencial, amam o Belo sem culpa, os outros, que buscam o belo na aparência, encontram por vezes o que é feio, pois o incorreto desejo do belo se transforma no mal, tal é o amor considerado como paixão da alma.

O amor considerado uma divindade é a mais divina das almas, pois nasceu diretamente da inteligência pura, que habita no alto. Não pode pertencer aos homens, pois por sua própria natureza não pode inclinar-se à terra, já que não pode habitar o mortal, é uma natureza a parte, uma essência não material. Cujo desejo esta em si mesmo. A alma que se encanta com esta natureza já não pode mais se satisfazer com os desejos mortais, não pode mais decair, pois assim como o sol não pode deixar de ser luz, ela não pode deixar de a ele tornar.

Os deuses amaram e amando geraram o amor, depois o contemplaram e a atividade de sua visão tornou-se essência e substancia imortal. Atividade intermediaria entre o amante e o amor. “Eros é o olho com o qual é dado ao amante contemplar seu amado” (Plotino, Do Amor, 135). O amor nasce da própria energia que emana da contemplação do que é contemplado, do olhar pleno de quem que vê a sua imagem.

Mesmo considerado como paixão, o amor gera o desejo dessa contemplação, porque a essência é anterior ao que não é, e ainda que se diga que a paixão consiste em amar e que dessa paixão concede o amor esta contemplação, este amor paixão não pode ser tomado em sentido absoluto.

O amor habita o plano da alma pura, superior a Alma do Mundo. Quando o amante sente o desejo de plenitude e a contempla sua alma se inclina às coisas do alto, pois toda alma aspira ao bem. E  toda alma é atraída à alma universal do amor pois dela depende.

Assim, cada alma que existe possui um amor dessa natureza. É ele quem inspira a cada alma os desejos, que por natureza ela se inclina a sentir. E cada alma sente segundo sua natureza um amor digno e decente. A alma universal possui um amor universal e as almas particulares têm, cada uma, um amor particular. O amor universal, inerente ao todo, esta integralmente por toda parte do universo, torna-se múltiplo, aparece no todo, em toda parte e se apresenta sob a aparência que lhe convém. O amor é por isso o ato da alma que procura o bem, é este amor que conduz toda alma à natureza do bem.

Entretanto, a alma possui em si certa indeterminaçao antes de atingir o bem, ela o pressente, e tem deste uma imagem indistinta, criando o que não é perfeito nem suficiente, pois nasce de um desejo indeterminado e de uma razão insuficiente. “quanto a razão assim engendrada (o Amor), não é pura, porisso que encerra um desejo indeterminado, irracional, indefinido, e jamais será satisfeito enquanto possuir em si mesma a natureza do indeterminado” (idem, p. 144).

O amor depende da alma, é um duplo, formado pela razão que não permanece em si mesma, mas que se associa ao indeterminado. O amor não essencial, é inteligente por natureza mas carente pela associação ao indeterminado, será sempre carente obtenha o que obtiver, não se pode saciar pois não possui condição para o ser.

Só pode se saciar aquele que possui por natureza a plenitude. O que é levado pela carência ao desejo, mesmo que por um instante saciado, jamais seria pleno. É pela própria natureza da razão a qual se encontra submisso, é que ele esta sujeito aos desejos, aos bens particulares.

O que verdadeiramente ama, possuem o amor do bem absoluto, são movidos pela harmonia particular que neles cria a alma que atua no todo. Os que são movidos pelas paixões vulgares, desejam o mal, são inferiores em dignidade, pois estão sujeitos à parte inferior da alma, todos os seus bens almejados não passam de meras paixões.

O amor é a Alma que coexiste com a Inteligência e por esta subsiste, desta recebe a razão que lhe da plenitude, orna-se de sua beleza, torna-se tão pleno que nos permite vislumbrar o esplendor de todas as Belezas. Logo, o Amor existe desde quando existe a alma, esta sempre nos seres, a indigência, o desejo e a reminiscência são razoes humanas, que, reunidas na alma, criam essa atividade para o bem que se chama amor. O desejo desempenha o papel da matéria,  o verdadeiro desejo do Bem não tem forma nem matéria, é permanente em si mesmo. “Assim é que o Amor é um ser que participante da matéria; e pleno de Bem e desejoso de bem desde o nascimento, é um gênio da alma” (idem, p. 152).  

Dalva de Fátima Fulgeri

Licenciada em Filosofia - Unisantos

    

BIBLIOGRAFIA

Plotino. Do Amor. São Paulo, Atena Editora, 1948.

Canção de Amigo

 

LÓGICO CONTRADITÓRIO

 

 A um (ex) Amigo...

 

     Florescente ele surge disfarçando sua face sórdida, cálido como inefável Zéfiros primaveril, desperta sutis lembranças de juventudes atemporais, me sufoca e me encerra na mesma dourada jarra onde a última não liberta comigo subjaz: paciente Esperança!...

     Belo e jovem Amigo que ao cantar encanta-se. Inebriado no luxurioso ego, feliz, multiforme, cujas faces flamejantes ocultam um âmago pálido de solidão... Pobre disforme Amigo!...

     Jovem e belo Amigo, cujo manto principesco mal vela a nudez da alma batraquiana, que pulsa nos charcos lodosos da devassidão reprimida. Desvela-te!

     Querido e desejado menino, cuja ausência se faz mais presente quando mais ao alcance estas; seu essencial prazer é magoar, é mal chegar...

     Caríssimo e adorado Amigo: anseio na juventude; jamais realizado. Ilusão tardia na sobriedade das horas, quando chegastes trazias consigo a essência das irrealizações: a que viestes?

     Jovem e caro Amigo, ausente na presença do Ser, do sentir e do sentido; por que estas? Tua beleza e juventude, amado menino, se transmuda em maldição harpiana que infecta o que aos sentidos uma vez deleitaram.

     Jovem e querido Amigo tua presença encanta como acordes bem tinidos de eruditos violões, cujo canto entoa mágoas de inenarráveis e mórbidas emoções: por que não calas teu, meu canto?

     Amigo jovem e Belo; inteligível e ininteligível refrão sob o mesmo momento e acorde: desvela teu canto!

    “Os homens, belo jovem a quem se dirige o meu discurso, chamam de Amor a este afeto...” * . Tua AMIGA entretanto, deve apenas chamar-te amigo...

( * PLATÃO, Fedro