É possível argumentar em favor de
uma filosofia cristã?
Jadilson Almeida Vilas Boas
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Discente do curso de Filosofia (UESB)
Introdução
No presente texto pretendemos refletir sobre um tema clássico e um tanto quanto polêmico que remonta à Idade Média. Em termo interrogativo, o nosso tema pode ser assim enunciado: é possível argumentar em favor da existência de uma filosofia cristã? Nossa reflexão visa responder positivamente essa pergunta. Para tanto, em uma espécie de retomada histórica, apresentaremos dois aspectos do pensamento Ocidental que marcaram de forma indelével a história da humanidade, suscitando debates ulteriores: o debate entre filosofia e religião.
Faremos isso, iniciando pela conceituação, de forma sucinta, do que comumente compreendemos por religião e por filosofia. A partir desses dois conceitos, argumentaremos sobre a possibilidade da existência de uma relação entre fé e razão, ou seja, entre filosofia e religião cristã. Na parte final, em um dos tópicos, apresentaremos a abordagem tomista do tema, a partir da recepção da filosofia aristotélica, bem como a repercussão que essa abordagem provocou dentro e fora do cristianismo.
Conceituando religião e filosofia
Por religião, em seu sentido geral, entendemos que se trata de um composto cultural capaz de articular um sistema de crenças, tanto em Deus quanto em algo sobrenatural, que transcende as forças humanas. Mas também um “código de gestos, de práticas e de celebrações rituais que admite uma dissociação entre a 'ordem natural' e a 'ordem sacral' ou sobrenatural” (JAPIASSÚ, 2006, p. 239). Nessa perspectiva, a religião pode se constituir como uma prática social que nasce da busca humana por sentidos e respostas para a existência, expressos através de costumes, de valores morais e de crenças, além de uma cosmologia e um metafísica muito bem delimitadas. Todas essas categorias, é bom que se diga, são compartilhadas por indivíduos e por comunidades, ao longo da história, no interior das diversas culturas.
De um modo geral, toda religião acredita possuir a verdade sobre as questões fundamentais do homem, porém, sempre exigindo a fé para aceitação de uma ideia expressa em dogmas. Como consequência, sua essência, é a crença na coexistência de um mundo material e um mundo espiritual habitado por seres divinos. Além desses aspectos, para ser considerada religião é necessário um grupo significativo de seguidores que adotem esses valores, mas de forma organizada e, ao mesmo tempo, hierárquica.
Por filosofia, partimos do princípio de que é difícil dar-se uma definição genérica, já que esta varia de filósofo para filósofo, como também varia dentro das correntes filosóficas e de acordo com o período histórico. Com efeito, existe uma definição de filosofia consolidada pela tradição e, portanto, usada de modo quase que corriqueiro. Desse modo, a palavra “filosofia”, de origem grega, é composta de duas outras, a saber, philo e sophía, na qual philo quer dizer “aquele ou aquela que tem um sentimento amigável”, pois deriva de phília, que significa “amizade e amor fraterno”. Sophia quer dizer “sabedoria” e,a partirdela, temos o termosophós, que quer dizer sábio. Poderíamos afirmar que Filosofia significa “amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito pelo saber”. Assim, filosofiapode ser caracterizada como uma certa disposição interior de quem estima o saber uma certa disposição de espírito do indivíduo que procura o conhecimento.
Mas, por filosofia podemos também discorrer como sendo uma disciplina que “teria um caráter geral, abstrato, reflexivo, no sentido da busca dos princípios que tornam possível o próprio saber” (JAPIASSÚ, 2006, p. 108). Com efeito, a filosofia pode ser definida como uma disciplina intelectual que se dedica a questionar e refletir sobre diversos aspectos da vida e da existência humana, bem como sobre questões fundamentais que permeiam o mundo em que vivemos. A filosofia, diferentemente da religião que exige a fé, pretende realizar o seu objetivo contando apenas com o uso da razão natural, ou seja, sem o auxílio da inspiração divina.
Se separadamente tudo parece tranquilo e cada campo de saber possui sua especificidade e sua produção de sentido, quando juntamos os dois temas a divergência surge. A interrogação que fornece o título do presente texto deixa claro não apenas que a abordagem será entre ambos os campos de saberes, mas também visa deixar claro o nosso ponto de partida: a abordagem do tema será filosófica, em defesa de uma filosofia que se caracteriza como sendo cristã.
É possível uma filosofia cristã?
Após discutirmos acerca do que entendemos, conceitualmente, por filosofia e também por religião, daremos agora um passo adiante e discutiremos a possibilidade de uma filosofia cristã. Seria possívelfornecer argumentos filosóficos em defesa de uma filosofia cristã?
Historicamente as diferenças entre filosofia e religião são evidentes no que se refere aos seus objetos, objetivos e metodologias. Enquanto a filosofiafaz uso de métodos críticos e mesmo reflexivos para compreender e explicar os diversos aspectos da realidade, a religião, sob a orientação na crença, visa ensinar verdades eternas ou divinas, sem provas tangíveis à razão, mas que fazem sentido para a fé. O fato é que, de forma surpreendente, parece que tanto a filosofia quanto a religião compartilham semelhanças, apesar de distintas quanto ao ponto de partida.
É razoável, então, perguntar: em que situação essas duas formas de pensamentos se assemelham ao ponto de terem algo em comum? O que têm as duas, por assim dizer, em comum? Será que através destas duas formas de pensamento, cada uma a seu modo, exploramos os fundamentos da existência humana? Religião e filosofia se interligam em busca da verdade e também de preocupações éticas e morais? É sempre possível traçar genealogias e encontrar pontos de contatos e/ou de interdependência. É nesse sentido que vamos refletir, de forma profunda,visando destacaraspectos conceituaisque corrobora e faça avançar a discussão entre a filosofia e a religião. Mas, partindo de conceitos já consolidados pela tradição, pretendemos refinar nosso conhecimento tanto da religião quanto da filosofia.
Denomina-se filosofia cristã, em sentido histórico, a filosofia influenciada pelo cristianismo que predominou no Ocidente, de modo especial, na Europa, cronologicamente a partir do século I ao século XIV de nossa era.Duas épocas são marcantes para se compreender a filosofia cristã: a primeira, que vai até o século V chamada de filosofia patrística; outra que vai do século X ao século XIV, chamada de filosofia escolástica ou medieval.
Tradicionalmente, podemos reconhecer que o problema principal da filosofia cristã, gira em torno da articulação das exigências da razão humana com a revelação divina. Do ponto de vista de um dos historiadores da filosofia cristã, todo o problema gravita em torno desta questão, a saber, existe a possibilidade de haver uma filosofia que se apresente, ao mesmo tempo, como filosofia e como cristã? Ao comentar o objeto da obra, o autor argumenta:
A única questão que se trata de examinar é saber se a noção de filosofia cristã tem sentido e se a filosofia medieval, considerada em seus representantes mais conceituados, não seria precisamente sua expressão histórica mais adequada (GILSON, 2020, p. 2).
Nesse aspecto, Étienne Gilson pondera que, o verdadeiro problema não está aí, pois
Reduzido à sua fórmula mais simples, consiste em perguntar se a própria noção de filosofia cristã tem sentido e, subsidiariamente, se corresponde a uma realidade. Naturalmente, trata-se não de saber se houve cristãos filósofos, mas de saber se pode haver filósofos cristãos (GILSON, 2020, p. 6).
Ainda de acordo com o filósofo medievalista, ninguém nega que o judaísmo, o islamismo e o cristianismo foram o berço de grandes nomes do pensamento ocidental. Mas, toda questão reside, de fato, em saber se a produção intelectual realizada no interior de cada uma destas tradições, especialmente a cristã, objeto da nossa discussão, merece o nome de filosofia. A fim de responder a tal interrogação, várias respostas foram propostas.
Os racionalistas puros, ao criticarem a possibilidade da escolástica ter elaborado, a partir do pensamento grego clássico, especialmente com base nas filosofias de Platão e Aristóteles, uma filosofia cristã, mostram que há uma certa contradição, isto é, uma incoerência. Com efeito, a escolástica, na concepção dos racionalistas, se lhes apresenta como algo que parece ter emergido do pensamento do senso comum, pois imprevisível, fortuito, contingente. Ao comentar esse fato, o pesquisador Barros Campos aponta que os racionalistas, ao fazerem uma crítica ao termo filosofia cristã, afirmam que essa doutrina medieval constitui uma “colcha de retalhos, mal tecida” e que “esta 'colcha' foi elaborada por homens que, ingenuamente ou não, apropriaram-se, indevidamente, do pensamento grego, tentando fazer uma síntese que, na realidade, era impossível” (CAMPOS, s/d, p. 3). No bojo destas tentativas, houve ainda aquelas que consideravam possível sintetizar e harmonizar Platão ou Aristóteles com a religião cristã. Ora, contra estes, afirma ainda o pesquisador, “alguns tentaram levantar a voz, apontando para o fato de que não se poderiam unir mortos que, quando vivos, jamais se entenderiam: Platão e Aristóteles” (CAMPOS, s/d, p. 3).
Em outras palavras, a posição contrária ao termo filosofia cristã, no bojo das críticas dos racionalistas, constitui-se como o pressuposto fundamental que fez com que os racionalistas chegassem a desconsiderar a filosofia medieval como autêntica filosofia. Tal posição deriva daobjeção essencialpré-estabelecida pelos filósofos racionalistas, entre filosofia e religião. Foi nesse contexto que surgiu um fosso entre as duas áreas: a filosofia pertence à ordem do racional, a religião se estende ao campo do irracional. Para os racionalistas, “existe entre a religião e a filosofia uma diferença de essência,que torna impossível, ulteriormente, qualquer colaboração entre elas” (GILSON, 2020, p. 7), a saber, a filosofia pertence à ordem do racional e a religião tende ao campo do irracional.
No entanto,se por um lado, reconhecendo que entre nós e os gregos houve a Revelação cristã, e que “ela modificou profundamente as condições nas quais a razão se exerce” (GILSON, 2020, p. 9), a tradição filosófica cristã parece que não estátotalmente em harmonia no que diz respeito às circunstâncias em que este encontro aconteceu. Porém, por outro lado, a tradição está de comum acordo em dizer que, após a Revelação, não se pode mais entregar-se à razão pura como se a Revelação não existisse, sob pena de cair-se nos mesmos erros em que caíram Platão e Aristóteles, a saber, “os erros da razão pura”. Com efeito, “toda filosofia que pretender se bastar a si mesma incorrerá neles ou em outros que serão piores” (GILSON, 2020, p. 9).
Todavia, o único procedimento seguro para a prática da filosofia, mas se distanciando cada vez mais e, desse modo, sem se voltar à direção oposta, isto é, sem entrar em contradição seria esse: “tomar a Revelação como guia a fim de alcançar alguma inteligência do seu conteúdo” (GILSON, 2020, p. 9),ou seja, torná-la inteligível pela razão.
Entretanto, se até aqui parece ter havido algum acordo, conforme argumentamos anteriormente, daqui para frente inicia-se as controvérsias e as querelas. Esses conflitos começaram a partir do instante que ficou evidente que o modo pelo qual se deve entender a expressão em filosofia: Fides quaerens intellectum,de modo que crer é a condição de possibilidade do entender. É nesse sentido que podemos ler no texto de Agostinho: “... tudo o que entendo, também creio, mas nem tudo o que creio, também entendo. Pois tudo o que entendo, sei; mas não sei tudo o que creio” (AGOSTINHO, 2008, 12, 37, p. 406).O desacordo surge a partir do momento em que se se procura estabelecer esta filiação, qual seja, que a filosofia deve ser tutelada pela teologia, eis o fundo do desacordo.
Todavia, uma vez iniciada as controvérsias entre ter a Revelação por guia e buscar, dentro do possível, torná-la inteligível e compreensível pela razão, foi necessário perscrutar um outro procedimento: rever a harmonia entre fé e razão. O desafio visava harmonizar religião e filosofia, de modo que não excluísse a autonomia da filosofia. Na tentativa de se responder, adequadamente, a esta questão, as escolásticas cristãs se dividem. O problema, na concepção do medievalista Gilson, é formulado da seguinte forma: “Fides quaerens intellectum, eis o princípio de toda especulação medieval; mas não seria também uma confusão da filosofia com a teologia, que arruinaria a própria filosofia? ” (GILSON, 2020, p. 9).
Diante do exposto, faz-se necessário desenvolver uma discussão mais aprofundada entre fé e razão, entre teologia e filosofia, ou seja, investigar o modo pelo qual essas duas dimensões da alma operam nas escolásticas cristãs, agora divididas. Desse modo, seria preciso refinar o nosso conhecimento sobre cada um dos diversos pensadores dos períodos medievais, da patrística e da escolástica para, ao fim e ao cabo, apontar possíveis soluções evidenciadas por eles em relação às querelas abertas desde então.Como onosso texto visa apresentar uma discussão inicial sobre o tema tratado, propomos uma discussão a partir do pensamento de Tomás de Aquino que, de acordo com boa parte dos historiadores da história da filosofia do medievo, representa o apogeu da escolástica medieval.
Um aspecto da querela no período medieval
Em sua obra O espírito da filosofia medieval, o medievalista Étienne Gilson, assinala que na tentativa de sanar a querela levantada entre a filosofia e a teologia, certosneoescolásticos de natureza tomistaassumem, surpreendentemente, parte da posição dos racionalistas, seus adversários. O que isso significa? Significa que, de fato, para aqueles que retomaram as ideias de Tomás de Aquino, numa palavra, os neotomistas, não existiu na Europa Medieval, uma filosofia originalmente filosófica, exceto a de Tomás de Aquino:
Somente o tomismo se oferece como um sistema cujas conclusões filosóficas são deduzidas de premissas puramente racionais. Nele, a teologia está em casa e em seu lugar, isto é, no topo da escala das ciências; fundada na revelação divina, que lhe fornece seus princípios, ela é uma ciência distinta, que parte da fé e só usa a razão para expor o conteúdo da fé ou protegê-la contra o erro (GILSON, 2020, p.10).
Diante desses argumentos, podemos então questionar: há uma harmonia entre filosofia e teologia, entre razão e fé, no pensamento tomista? Se realmente a filosofia tornou-se serva da teologia, existe algum acordo entre ambas? Esta harmonia, este acordo entre razão e fé, entre filosofia e teologia, na concepção do pensamento neotomista, opera-se na hipótese segundo a qual a verdade não pode se contrapor a verdade. Desse modo, pressupõe-se que, “se ela [filosofia] se acha em concordância com a fé é simplesmente porque é verdadeira e porque a verdade não poderia contradizer a verdade” (GILSON, 2020, p.10). Eis, portanto, o ponto de concordância entre essas duas formas de pensamento. Em outras palavras, se realmente há uma harmonia, uma relação, um acordo entre fé e razão, esta é devido ao fato de a filosofia ser verdadeira e não ao fato da filosofia ser cristã.
Sabemos, através dos historiadores da filosofia medieval, especialmente da escolástica, que o pensamento filosófico de Tomás de Aquino encontrou, inicialmente, certa oposição da Igreja e mesmo das universidades medievais, devido a sua identificação com o pensamento de Aristóteles. Por conseguinte, se o pensamento filosófico do Aquinate se assemelha ao de Estagirita, ele se dá apenas no que se refere à razão e não quanto a fé ou a revelação. Em outros termos, se o autor da Suma teológica precisouse aproximar do pensamento do autor da metafísica, o fez apenas no sentido de “corrigir” o pensamento do primeirono que se refere a integração entre o aristotelismo e o cristianismo.
Ademais, isso apenas só foi possível, racionalmente, sem nenhuma intervenção da revelação no aprimoramento que Tomás fez da filosofia aristotélica. De acordo com Gilson (2020, p. 12-13) “Os princípios filosóficos de são Tomás são os de Aristóteles, isto é, de um homem para o qual nem a revelação cristã nem a revelação divina existiam”. Dessa maneira, a filosofia tomista seria somente um aristotelismo racionalmente corrigido, ou melhor, entre Tomás e Aristóteles, no âmbito filosófico, existe apenas um homem debatendo com outro homem.
A partir da discussão feita até agora, caso seja apontado algum desacordo entre a revelação e a filosofia, é bem provável que o mesmo ocorra porque tal filosofia não tenha aspectos realmente de uma verdadeira filosofia, quer dizer, não será pelo fato dessa filosofia não ser de caráter cristã. Sabemos que Tomás de Aquino, ao seu modo, conseguiu estabelecer um certo equilíbrio na relação entre a fé e a razão, entre a teologia e a filosofia, distinguindo-as, porém, não as separando. Deus, por exemplo, pode ser tratado por ambas, teologia e filosofia. Contudo, as diferenças entre ambas se dão apenas nas questões de ordem metodológicas, ou seja, a filosofia utiliza das luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina evidenciada na revelação. A esse respeito, “Há distinção, mas não oposição entre as verdades da razão e as da revelação, pois a razão humana é uma expressão imperfeita da razão divina, estando-lhe subordinada” (COSTA, 2001, p. 96).
Diante do que foi discutido até agora, e das considerações feitas por racionalistas puros e certos tomistas e neotomistas, argumentamos que,em que pese a querela levantada pela sentença em filosofia fides quaerens intellectum seja posta de forma coerente por pensadores da escolástica, o conteúdo das verdades reveladas pode se encontrar estabelecido num nível de exigência superior ao da capacidade da razão natural, porém, em nenhuma circunstância, pode ser contrário a ela.
Fragilizando a querela entre racionalistas puros e neotomistas, Gilson aponta para uma definição de filosofia cristã que, conjuntamente, pode conservar-se num percurso filosófico, mantendo o seu aspecto racional e sua tendência natural para o diálogo com a revelação cristã indispensável para se chegar a uma harmonia: “Chamo pois de filosofia cristã toda filosofia que, embora distinga formalmente as duas ordens, considere a revelação cristã uma auxiliar indispensável da razão” (GILSON, 2020, p.45).
A ideia não é suprimir uma ou outra ou exaltar uma em detrimento da outra, como ocorreu com rebaixamento da filosofia pela teologia no medievo, mas resgatar e exaltar a autonomia de ambas. A melhor maneira de fazer isso é através de um diálogo mais efetivo e que, durante o processo, cada uma das áreas mantenha as suas características essenciais. O assunto que ora discutimos, em boa medida, é uma forma de manter o diálogo vivo, uma vez que tanto a filosofia quanto a crença são partes constitutivas da condição humana e não permite que seus conteúdos e pressupostos sejam reduzidos à expressão de uma ou de outra.
Conclusão
O objetivo principal desse texto foi apresentar argumentos que apontam positivamente em favor de uma filosofia cristã. Para esse propósito, apresentamos dois aspectos históricos do pensamento Ocidental, filosofia e religião, que marcaram de forma expressiva a história da humanidade, ou seja, o tema estudado se ilumina e se enriquece com uma abordagem diferente. Em vista disso, o assunto discutido diz respeito aos homens, a um só tempo racionais e detentores da fé. Por isso mesmo o tema pode e deve ser passível de discussãode modo a não desprezar uma ou outradestes dois grandes modos de compreender o mundo: através da razão e/ou através da fé.
De forma antecipada, elaboramos hipóteses às quais nos deram uma compreensão real dessas influências e contribuições entre a razão e a fé. Reflexões sobre um tema clássico e um tanto quanto polêmico tal como é o problema central da filosofia cristã, ou seja, a procura de uma conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina, requer informações mais exatas e sistemáticas. A resposta-provocação do título é positiva, à medida que não é possível deixar de reconhecer identidade de cada um dos campos e os seus pressupostos, bem como a sua presença marcante no interior das diversas culturas. Afinal, seria possível filosofar à maneira grega, sem levar em conta a contribuição do cristianismo, como cultura, para além de religião?
Estamos cientes de que não exaurimos todas as exigências do tema proposto, nem em termos históricos, nem em termos de atualização e presença hoje em dia. Estamos cientes também que ao apresentar uma reflexão sobre a filosofia cristã estamos em sintonia com a tenção que o tema recebe atualmente tanto por parte dos historiadores da filosofia medieval como de teólogos. Esse texto, portanto, não pretendeu dar respostas definitivas acerca do tema estudado, massuscitar, nos leitores, impulsos para pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto, ulteriormente.
Referências bibliográficas
AGOSTINHO. O mestre. In: ______. Contra os acadêmicos. A ordem. A grandeza da alma. O mestre. São Paulo: Paulus, 2008, p. 359-415.
CAMPOS, Sávio Laet de Barros. O conceito de filosofia cristã. Disponível em http://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Conceito_Filosofia_Crista.pdf.Acesso em: 26 jun. 2024.
COSTA, José Silveira da. A filosofia cristã. In: REZENDE, Antônio (ORG.). Curso de filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 88-100.
GILSON, Étienne. O espírito da filosofia medieval. São Paulo: Martins Fontes, 2020.
JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia.4 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.