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AS CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS EM VYGOTSKY E FOUCAULT

PAULO DIAS GOMES

Filósofo, Teológo, Doutor em Ciências da Religião e Especialista em Docência do Ensino Superior e em Educação à Distância.

Professor titular da Cadeira de Fenomenologia e Existencialismo, Lógica e Metafísica da Faculdade Phênix de Ciências Humanas e Sociais do Brasil

 

Lev Semionovitch Vygotsky Nasceu em 17 de Novembro de 1896 na cidade Orsha – Moscou. Pensador importante, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais (e condições de vida).

 

Os seus primeiros estudos foram voltados para a psicologia da arte. As suas ideias foram desenvolvidas na União Soviética e passou a desenvolver um trabalho dentro da psicologia com base no materialismo marxista, e construir uma teoria da educação adequada à nova realidade social emergida da revolução.

Michel Foucault nasceu em Paris a 15 de outubro de 1926 , a sua tradição é baseada no estruturalismo e pós-estruturalismo, ocupou-se com a Epistemologia, a Estética, o Poder, a Psicologia, a História, a Sociologia, a Antropologia, o Sujeito, e com os Processos de Subjetivação, tendo influências acadêmicas de Ferdinand de Saussure, Gaston Bachelard, Althusser, Nietzsche, Claude Lévi-Strauss desenvolveu idéias relacionadas ao Biopoder, Sociedade Disciplinar, Governamentalidade e do Cuidado de Si. Estes autores que viveram em locais e épocas diferenciadas por diversos fatos históricos, apresentam em suas formulações doutrinárias uma preocupação com a educação no que tange ao aprendizado tem como elemento norteador a linguagem e as avaliações psicológicas do educando.

As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se tornaram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de desenvolvimento proximal, que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue aprender sozinha e aquilo que consegue aprender com a ajuda de um adulto. A Zona de desenvolvimento proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte educacional devido. De certa forma a própria educação em si é questão de vontade, ou seja de iniciativa, não é resultado de projeto único, com formulação consensual, mas se tratada de práticas que conduzem à educação e que produzem uma diversidade enorme de sujeitos sociais com os resultados sociais, não esquecendo da valorização do indivíduo com todas as suas marcadas sensibilidades, disposições e consciência sobre as questões do mundo social.

Este mesmo posicionamento é defendido por Foucault ao apresentar a questão do pensamento como uma investigação acerca da realidade que é observada como uma atividade introspecção , ou seja de auto-crítica gnosiológica: “O que é filosofar hoje em dia, senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento?”

Considerados os dois pensamentos em harmonia conceptual, perguntamos:

Quem é o responsável pelo aprendizado, o indivíduo enquanto forma a consciência sobre si mesmo e o mundo ou o aprendizado depende de fatores externos que possibilitam a necessidade do conhecimento necessário à sobrevivência? Vygotsky sugere que é importante a interação social na formação do individuo, mesmo porque este processo de sociabilidade fornecerá as bases indispensáveis para a sobrevivência e esta dependende da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual, em outras palavras, todas as funções no desenvolvimento do ser humano aparecem primeiro no nível social (interpessoal), depois, no nível individual (intrapessoal). VYGOTSKY (1974, 1984).

Vale ressaltar que Platão (428 - 347 a.C.) já admitia que as idéias representam a única verdade e que os sentidos se constituem apenas na ocasião para despertar nas almas as lembranças adormecidas, posições defendidas, também, por Demócrito de Abdera. (460-370 a.C.). Na teoria Platônica da Participação valoriza-se a subjetividade do saber, enquanto

que na teoria da Reminiscência a importância da interação social é salutar como instrumento renovador dos valores cognitivos que se encontram em estado latente e em potência do conhecimento. Na concepção de ambientes interativos como instrumentos de aprendizagem devesse destacar que na natureza construtivista da aprendizagem os indivíduos são sujeitos

ativos na construção dos seus próprios conhecimentos.

A zona de desenvolvimento proximal que é definida como "a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes" VYGOTSKY (1984:95-97). É fundamental o caráter da relação entre os processos em maturação e aqueles já adquiridos bem como a relação entre o que o indivíduo pode fazer independentemente e em colaboração com os outros, admitindo que ele pode adquirir mais em colaboração, com ajuda ou apoio, do que individualmente. O ensino pode provocar o desenvolvimento exatamente através da zona de desenvolvimento potencial, pois segundo VYGOTSKY, "o ensino é útil quando vai à frente do desenvolvimento (...) e impele ou acorda uma série de funções que estão em estádio de maturação que ficam na zona de desenvolvimento potencial". Não é preciso suprimir do sujeito a sua capacidade de adquirir conhecimentos por si mesmo, porém a necessidade da intervenção do adulto para apoiar o aluno na realização de uma tarefa complexa que ele, por si só, seria incapaz de realizar indica como o adulto implementa processos de suporte que se estabelecem através da comunicação e que funcionam como apoio neste processo de aprendizado. Sobre esta relação Foucault ressalta que pode haver dificuldades e os riscos envolvidos nesse propósito, bem como a necessidade de evitar esquematismos e engessamentos decorrentes dos distanciamentos e aproximações. Defendendo este posicionamento Alfredo Veiga-Neto, em livro sobre Foucault e a educação (Belo Horizonte: Autêntica, 2003). Enfatiza que “Nos tornamos sujeitos pelos modos de investigação, pelas práticas divisórias e pelos modos de transformação que os outros aplicam e que nós aplicamos sobre nós mesmos” (Veiga-Neto, 2003, p. 136). Independente dos diversos graus pelo qual o conhecimento é adquirido é importante, ressaltar que a complexidade de nossas ações estão, diretamente relacionadas com a realidade a qual estamos inseridos, sejam eles pelo processo social associativo ou dissociativo, o que nos impede de agir como sujeitos livres, tendo em vista as conseqüências dos fatos sociais. Por outro, não aconteceria nenhuma coisa nem outra sem o instrumento mais importante na comunicação ou permuta de conhecimentos se não fosse a linguagem. Instrumento, este, que é usado como na concepção e na formulação de discursos nominativos e interpretativos da realidade. Assim, estes “discursos”, segundo Foucault "produzem sem cessar o fundamento de sua própria história", (FOUCAULT, 1994, v. 1V,p. 770).

Em outras palavras, porém com o mesmo teor Vygotsky, defende que a linguagem fornece os conceitos formais responsáveis pela organização do real, e como mediadora ela ocupa função cognitiva quando associa o sujeito e o objeto do conhecimento e a função social quando processa a sociabilidade entre os sujeitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Se não é possível, ainda estabelecer uma síntese entre Conhecimento e realidade, realidade e linguagem, entre sujeito e objeto, é possível ao menos, que a aprendizagem humana pressupõe uma intencionalidade, devido ao próprio fato da sobrevivência social, estas interações, levam ou não ao conhecimento, o que nos propõe uma valorização da subjetividade humana. A questão não é se há mediação ou facilitadores na formação e na informação dos indivíduos enquanto sujeitos na sociedade. A questão que abordamos é que se estas interações não estão vinculadas aos interesses ideológicos daqueles que se julgam

detentores do Poder. Como aparelho reprodutor dos ideais sociais e políticos a escola exerce mais que meras funções didáticas, ela está compromissada com a formação social do indivíduo, é a educação que se apresenta como mediadora entre o indivíduo e o mundo, é nela que se compreende a realidade e como facilitadora, fornece os reais instrumentos para a reinterpretação dos fatos, mesmo porque todo sujeito é inacabado e embora historicamente situado entre e limitado aos fatos sociais de exterioridade e coercitividade, cabe-lhe a responsabilidade consigo mesmo e com todos os cercam, eis o papel e o Status de um homem não como mero sujeito, mais como indivíduo e pessoa sujeito aos equívocos e sucessos na sua jornada de eterno aprendizado e mestre da vida. Se não há luz em nossos caminhos é por que esquecemos de acender as velas, quem sabe não poderemos usar a cabeça da Medusa (a linguagem) para petrificar as nossas ignorâncias cognitivas e alienatórias da realidade falseadora da verdade?

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.

São Paulo: Martins Fontes, 1966.

FOUCAULT, M. Dits et écrits - 1954-1988. Paris, Gallimard, 1994, v. 1V, p. 770.

PLATÃO – A REPÚBLICA. Coimbra: Minerva, 1988

VyGOTSKY, L. - A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1987.

VEIGA-NETO,A. (org) Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

VYGOTSKY, L. - Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988.