Espaço-Poesia
Cansei
Cansei
cansei da solenidade, da
formalidade
da metáfora.
Cansei da mão guardada por
dentro
e daquele gesto medido,
comedido.
Mudei de opinião. Acerca de
quase tudo:
pessoas, obra de arte, vida,
profissão.
Não quer dizer que fiquei
melhor,
nem pior.
Fiquei diferente.
Conservei as aparências,
mesmo trabalho cotidiano,
a mesma casa, os mesmos
horários,
a mesma cidade.
E a vida continuou
subterrânea
vital
líquida
corrente
ainda que seu percurso de
carne e argamassa
congelasse a superfície.
Ainda não sei se sou radical.
É a única questão a resolver.
Quanto ao resto, amigos,
mudei
como se muda a vista breve
de uma manhã
ou a arquitetura de um vôo.
Neide Archanjo
Mirante 45 - Revista Literária Santista
Janeiro/2004. Pág.28