Coluna do Leitor
Schiller e a estética
“No silêncio pudico de tua mente educa a verdade vitoriosa, exterioriza-a na beleza, para que não apenas o pensamento a homenageie, mas para que também os sentidos apreendam, amorosos, a sua aparição.”
Friedrich Schiller. “A educação estética do homem”.
Observamos na obra de Friedrich Schiller: “A educação estética do homem”, o conceito de ação recíproca entre dois impulsos, onde a eficácia de cada um ao mesmo tempo funda e limita a do outro. Sendo esta relação de reciprocidade entre os dois impulsos obra da razão, algo próprio do ser humano. O impulso lúdico, onde o impulso sensível e o impulso formal atuam juntos, imporá necessidade ao espírito, libertando o ser humano. O impulso lúdico torna contingente a índole formal bem como a índole material; sendo que a contingência desaparece tendo em vista a necessidade.
O belo é forma viva, o homem deve jogar com a beleza. O impulso lúdico é um jogo. A beleza na idéia é una e indivisível, enquanto que a beleza na experiência é dupla. Do belo esperamos um efeito dissolvente e outro de tensão. Encontramos o homem real, limitado, em um estado de tensão ou em um estado de distensão, sendo estes estados suprimidos pela beleza, que produz no homem tenso a harmonia, bem como no homem distendido a energia, reconduzindo assim o homem de um estado limitado ao absoluto. A beleza suavizante, está para uma mente tensa, enquanto que a beleza enérgica está para uma mente distendida. A beleza liga os estados opostos de sensação e pensamento. O belo permite ao ser humano a passagem da sensação ao pensamento.
Diríamos ainda que o impulso sensível precede o racional na atuação, bem como, que a sensação precede a consciência. A liberdade humana tem o seu início com a sensibilidade; no ser humano existe o grande poder da vontade. Para maior clareza, faremos menção ao texto de Schiller: “A mente é determinável apenas à medida que não está determinada de modo algum; também é determinável à medida que não é determinada por exclusão, isto é, à medida que não é limitada em sua determinação. Aquela é mera ausência de determinação (ilimitada porque sem realidade); esta é a determinabilidade estética (não tem limites porque unifica toda a realidade). A mente é determinada, em geral, tão logo seja apenas limitada; é também determinada, contudo, à medida que limita a si mesma a partir da capacidade absoluta própria. Encontra-se no primeiro caso quando sente; no segundo quando pensa. O que, portanto, o pensar é em vista da determinação, a constituição estética é em vista da determinabilidade; aquele é limitação por força interior infinita; esta é negação por plenitude interior infinita.”(2)
A estética conduz ao ilimitado. O estado estético é um todo em si mesmo. A obra de arte nos transmite serenidade, liberdade de espírito, bem como, força e energia. Diante da disposição estética do espírito, a espontaneidade da razão tem seu inicio na sensibilidade.
O homem traz em si um pouco do seu estado animal, mesmo nos mais cultos por vezes é possível encontrar vestígios desse estágio sombrio de sua natureza, bem como, no homem mais bruto, é possível encontrar vestígios da liberdade da razão. A cultura, a estética muito pode colaborar para o desenvolvimento integral do ser humano.
Observamos também em Schiller, a arte como “tecné”. A educação estética é uma busca da totalidade no sujeito. O sujeito está em constante construção. O belo natural é uma composição cósmica disponível para o sujeito. A arte é construção do sujeito. A grande obra de arte está sempre sendo revista, discutida, pede a sua reinterpretação no tempo e este não acaba com a obra de arte. O belo antecede o bem. O belo deve ser o fundamento do bem e este o fundamento da verdade. A experiência estética afeta a conduta.
Luís Otávio Maciel
Mestrando em Filosofia, pela PUC-SP
BIBLIOGRAFIA
1- IBRI, Ivo Assad. Kósmos Noétós: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce.São Paulo, ed. Perspectiva/ed.Hólon, 1.ed.,1992
2 - SCHILLER, Friedrich. A Educação Estética do Homem; numa série de cartas. São Paulo, ed. Iluminuras, 4.ed., 2002, trad. Roberto Schwarz e Márcio Suzuki.