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O indivíduo em Sören Aabye Kierkegaard

 José Paulo Coelho Faradji Chadan[1](*)

Sören Aaybe Kierkegaard, pensador e filósofo religioso do século XIX refletirá principalmente sobre o tema de como se tornar um verdadeiro cristão, um cristão genuíno. Entretanto, para chegar ao ponto conclusivo de sua filosofia, a saber, como se tornar um verdadeiro cristão, Kierkegaard passará a refletir acerca dos diversos modos de existência, que chamará de estádios.

O primeiro será chamado estádio estético no caminho da vida, onde o elemento que o caracteriza é a inclinação. Diz respeito às inclinações do indivíduo, sua vida exterior e sua sensualidade. O segundo estádio será o estádio ético, onde os elementos que o caracterizam serão o dever e o matrimônio. O estádio ético tem a ver com a vida do indivíduo no meio de outros homens, pois só um homem vivendo em meio a outros é que se constitui a ideia de dever. Por último, o estádio religioso, onde a figura central que o representa será Abraão ( religiosidade  A:  do Antigo Testamento). A verdadeira religiosidade é a do Novo Testamento. Este estádio diz respeito à relação Indivíduo com a Verdade, com a fé, o paradoxo, a resignação e re-apropriação do mundo em e com Cristo.

Passemos então, a tratar da existência do individuo em cada estádio, segundo S. Kierkegaard.

  

Estádio Estético: o indivíduo e a inclinação

 

            O indivíduo quando vive na esfera estética da vida, segue seus impulsos, suas inclinações[2]. Vive para instrumentalizar, de maneira objetiva, o mundo e até as pessoas que o cercam. Tal esfera, no entanto, é dividida em dois subestádios: o pré-reflexivo e o reflexivo.

            O primeiro estádio da vida estética é o  estádio erótico imediato, que só pode ser representado pela música e a música de Mozart – as Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, Don Giovanni. Um estádio no qual o indivíduo toma como força propulsora de seus atos, tudo o que lhe vêm de fora – as pessoas, os objetos que o rodeiam, os aspectos externos do mundo, ou, para usar uma terminologia kantiana, tudo o que lhe atinge os sentidos.

A esfera, ou o estádio pré-reflexivo é, portanto, um estádio no qual impera o egocentrismo do indivíduo, pois tudo está aí para ele, para que as tome por instrumento. Impera nela também o impulso, a inclinação, fazendo com que o indivíduo aja segundo sua vontade imediata. Falando kantianamente, esse indivíduo que vive esteticamente, e ainda pré-reflexivamente, é o único capaz de ser feliz, porque a felicidade independe da reflexão, ou de qualquer outra faculdade humana. A felicidade depende sim, de se fazer o que se quer e na hora que se quer, de agir de acordo com as inclinações e não segundo a ética.

Já o segundo estádio é a etapa reflexiva, não mais calcada na imediatez dos instintos, mas na mediaticidade da reflexão, do pensamento. Porém, um pensamento que reflete esteticamente. Nesse estádio, o indivíduo ainda é regido pelo mundo exterior e por tudo o que lhe vem de fora. A diferença está em não apenas satisfazer suas inclinações com as coisas do mundo externo; agora ele as quer possuir, dominar e controlar a seu bel prazer. O indivíduo na fase reflexiva age impulsionado pelo exterior, porém ele quer mais. Age pela vontade de possuir, de controlar, de obter, de fazer e desfazer; pela vontade de ser onipotente – pela vontade de poder. Representante deste estádio Johannes o Sedutor, “autor” do Diário do Sedutor. Na verdade o texto foi encontrado numa escrivaninha e a questão da autoria cai num abismo.

Para melhor exemplificar essas duas subdivisões do estádio estético no caminho da vida, Kierkegaard se utilizará de figuras mitológicas da Antiguidade: D. Juan, Fausto, o Mestre-ladrão e Assueiro, o judeu errante.

 

 

  1. a) Mestre-ladrão: O poder-fazer

 

O Mestre-ladrão é uma personagem semelhante ao Hobbin-Hood, de Hollywood. Quer poder-fazer a justiça com suas próprias mãos. No entanto, não age preocupado com a paz interna, social, mas age por prazer. Rouba dos ricos para dar aos pobres e acredita, assim, estabelecer, equilibrar, ou melhor, ‘fazer’ com que se faça a justiça social. Entretanto o que não percebe, é que não estabelece justiça alguma. O que faz é, antes de tudo, romper com o direito de propriedade, prejudicando a terceiros. O Mestre-ladrão não se sacrifica por aquele a quem ajuda, mas sacrifica sempre a um terceiro. Por conseguinte, desrespeita as leis, as normas e a sociedade.                      

 

  1. b) D. Juan: o poder-querer

 

  1. Juan é uma personagem que segundo conta, seduziu muitas mulheres, mais de 1.003 só na Espanha[3]. Porém, não se interessa pelo objeto conquistado de maneira subjetiva, quer apenas possuir o objeto, sem limitação e sem responsabilidade nenhuma em relação a ele. É um sedutor e quando obtém o objeto de seu desejo, no momento exato em que o obtém, se torna sem atração para ele e o sedutor parte, então, para uma nova conquista. Pois, o que o sedutor de fato quer não é o objeto de seu desejo, mas o controle da arte da sedução. Por isso, quando obtém o objeto perde a atração. Contudo, se o objeto desejado se afastar dele ao menos um pouco, lhe será novamente atrativo.

 

 

  1. c) Fausto: O poder-saber

 

O mestre-ladrão e D. Juan são estetas da primeira etapa: a esfera estética, não reflexiva. Em Fausto, porém, há uma ruptura. Fausto, ao contrário de D. Juan e do Mestre-ladrão, é um esteta reflexivo[4]. É um doutor, conhece muitas coisas sobre a ciência, a natureza humana, as artes, a história e deseja algo divino, deseja a onipotência, e por ela, o amor de Margarida. Em prol disso, Fausto vende sua alma a Mefistófeles e é vítima de seu desespero, pois percebe sua impotência para administrar agora sua onipotência. Não alcança a felicidade nem por ser onipotente e muito menos, por ter o amor de margarida. Ele, então, se desespera.

 

 

  1. Assueiro: O poder-não-poder

 

Condenado a viver eternamente por não ter auxiliado Jesus a carregar a cruz, Assueiro foi condenado a viver eternamente. De inicio, nem achou que a maldição lhe imposta fosse tão penosa assim, mas com o passar do tempo, ele deseja morrer... e não pode. Ele sente profundamente a dor da perda e é levado ao ceticismo, sem apego às pessoas e lugares, valores ou crenças etc. Assueiro vive, e vê tudo se destruindo: cidades inteiras, famílias, todos crescem e de repente se vão, morrem. Até um ponto em que ele mesmo deseja morrer, mas não pode. Então Assueiro, assim como Fausto, se desespera.

Enfim, todas as personagens que vivem na esfera estética e que aqui foram apresentadas, por fim, caem no mesmo sentimento: no tédio, na insatisfação, na falta de sentido subjetivo para as suas vidas e no desespero. Contudo, tal, é mais notado pelo esteta três e quatro, por Fausto e Assueiro. Estetas do tipo reflexivo e que chegam ao ponto culminante da vida estética.

A vida estética ficou clara, é uma vida puramente exterior. Nela o indivíduo não toma consciência de si. Ele não tem subjetividade, interioridade, não se questiona acerca de um sentido para sua vida. Segundo Gouvêa “ A estação estética está associada ao imediato, e não há [nela] aceitação consciente de um ideal” ( GOUVÊA, Paixão Pelo Paradoxo. Ed Novo Século. São Paulo, 2000, p.212).

Sendo assim, o indivíduo que vive na esfera estética, acaba caindo na exterioridade, na objetividade e em todas as formas de mentira possíveis. O esteta faz do mundo o seu grande circo. E tudo o que há dentro do circo torna-se instrumento em suas mãos para que ele brinque diante da plateia. E a ‘plateia’ aos olhos dele, também não tem vida, pois no momento em que ele quiser ele a usará como motivo para suas risadas e façanhas.  Chamando um ou outro a participar do espetáculo, não como agente, mas como paciente– como objeto mesmo.

 

 

Estádio Ético: O Indivíduo e a Sociedade

 

  1. Escolha e Repetição

 

Ao se estudar o indivíduo na sociedade, damo-nos conta, de que tal relação, é exclusivamente ética. O estádio ético em Kierkegaard, é o estádio que vem após a ironia, que é um ‘inter-estágio’ entre os estádios estético e ético. Enquanto que o estético enfatizava claramente a exterioridade e a falta de interioridade e vida subjetiva, ou até mesmo, quando no estádio estético, havia reflexão, esta estava voltada exclusivamente para fins exteriores, posto não haver na reflexão estética, nenhum traço de subjetividade. O ético por sua vez, enfatizará a vida interior, subjetiva, a escolha que o indivíduo faz de si mesmo, isto é, do seu Eu enquanto personalidade, enquanto significante de sua própria existência.

A diferença marcante entre os estádios estético e ético, é que no estádio estético, o indivíduo espontânea e imediatamente, é o que é, ao passo que no estádio ético, o indivíduo se torna se o que é através das escolhas que faz[5].  A escolha absoluta é o sinal da ética. O indivíduo, segundo Kierkegaard, só é ético, quando ele se escolhe a si mesmo de maneira absoluta[6]. E ele se escolhe de maneira absoluta, escolhendo-se a si mesmo a cada instante. Diferente do estético, o qual se frustra por querer repetir o instante, o ético repete por assim dizer, o instante, fazendo com que tal, se torne duradouro. Para o homem da estética, o instante é um piscar de olhos. Para o homem ético é o instante da decisão. O indivíduo sempre que tem de escolher, escolhe o compromisso. Sempre que tem de escolher, escolhe a seriedade, escolhe a alteridade. Como se ele renovasse a escolha feita anteriormente, perpetuando-a. Como alguém que se casa, e assume responsabilidade para com o seu cônjuge. Tal indivíduo, sempre que se vê na tentação de traí-lo, escolhe novamente a escolha anterior, ou seja, o matrimônio; perpetuando assim a sua escolha.

Sendo assim, o indivíduo que vive no estádio ético, se escolhe de maneira absoluta, pois está sempre reiterando a sua escolha anterior. Tal indivíduo é constante e perpetua o seu Eu, transformando o que para o esteta era o instante, em algo duradouro, em uma constante reiteração.

 

 

  1. b) O Matrimônio

 

O matrimônio é o arquétipo que simboliza a vida ética e todos os demais modos de vida ética se espelham nele. Seu primeiro constituinte, ou seja, sua substância, é o amor.[7]Sem o amor, o casamento se tornará uma simples associação entre duas pessoas, a fim de satisfazer o apetite sensual, ou de alcançar algum outro objetivo. O amor é então, o selo do matrimônio. O qual não é finito e nem busca as coisas finitas, mas é justamente a busca e a tentativa mesma, de alcançar a eternidade e a infinitude.[8] 

Sendo o matrimônio um compromisso que não busca a finitude e nem as coisas temporais, não podemos olhá-lo tentando encontrar para ele uma causa igualmente finita e temporal. Como por exemplo entre aqueles que se casam com o intuito de afirmar seu caráter, tentando com isso afirmar sua masculinidade, ou até mesmo sua moralidade e fidelidade. Entre aqueles que se casam para ter filhos, imaginando ser o casamento algo que diz respeito apenas à procriação, ou entre os que se casam a fim de escapar à solidão etc[9]. Pois ao contrário de todos estes que se enganam, vendo no matrimônio um fim finito e contingente, o matrimônio nada mais é que a renuncia destes fins e a busca pelo amor conjugal.

O indivíduo que contraí verdadeiramente o matrimônio, resigna ao mundo[10], aos seus objetivos pessoais e contingentes, para obter em troca disso, o amor conjugal; amor este, que busca a eternidade. No matrimônio, o indivíduo se escolhe a si mesmo, como indivíduo ético e compromissado com o seu cônjuge. Sabe, no entanto, que tal compromisso não se baseia neste ou naquele fim contingente, mas no amor que ambos sentem um pelo outro, na alteridade, cumplicidade, resignação, e na repetição (re-afirmação) da escolha, ou da escolha anterior – o matrimônio. 

 

 

  1. c) Responsabilidade e Culpa

 

Todavia, a escolha que o indivíduo faz de si mesmo, traz consigo a reflexão; da qual surge o senso de responsabilidade. Se porém, o individuo falhar em sua responsabilidade, surgirá de seu fracasso, o senso de culpa[11].

O indivíduo no estádio ético, segundo Kierkegaard, opta pelo dever, pela seriedade, pelo compromisso consigo e com os outros. Porém, ele acabará por notar sua incapacidade de cumprir a risca, todos os seus deveres. Seja como marido, seja como patrão ou empregado, como amigo ou membro de alguma sociedade ou comunidade. Pois a ética no fim das contas fracassa. Ninguém, segundo Kierkegaard, absolutamente ninguém consegue cumprir inteiramente o seu dever ou os seus deveres. Todos e absolutamente todos, tem limitações, tropeçam nas suas fraquezas, no seu egoísmo e transgridem as leis e as normas.

Obedecer é difícil e não há quem duvide disto, no entanto, o indivíduo que escolhe obedecer, é porque enxergou na obediência, algo positivo. Não é fácil obedecer por exemplo, as leis de trânsito ou um acordo familiar ou mesmo ser fiel no casamento, mas se se faz isto, é tão somente pela consciência de que se o mesmo não for feito, não viveremos em paz. E é essa mesma consciência que por um lado nos faz ver os benefícios da obediência, e por outro, ver a nossa fragilidade em obedecer e, portanto, a nossa culpa diante da desobediência.

Podendo mesmo, chegar o momento onde o indivíduo se cansa de todo esforço moral e então ele se angustia[12]. Angustia-se  por causa de suas próprias limitações, suas imperfeições e sua incapacidade em cumprir os deveres morais, ou dito de outra forma: se cansa de toda a sua imoralidade.

 

 

  1. d) Angústia

 

 Todo homem é angustiado, mas a maioria não entra em contato com a angustia. Kierkegaard define-a como a possibilidade de poder. Seu grau mais baixo é o da angustia inconsciente, própria do homem do estádio estético. E seria justamente neste momento de angústia, que o indivíduo que se encontra no estádio ético na estrada da vida, escolherá como se portar diante da responsabilidade e da culpa.

O indivíduo pode se desesperar do mal. Ou melhor, segundo Kierkegaard, o individuo pode sentir angústia diante do mal[13]. O indivíduo que sente angustia diante do mal, é o indivíduo que não suporta mais a sua própria culpa diante da responsabilidade e do dever não cumprido; diante da transgressão das leis e das normas; diante dos seus próprios princípios de conduta. O indivíduo que se angustia do mal é o indivíduo que percebe como é vazia e aborrecida a vida que leva, posto que ele quer o bem, mas o que ele tem diante de si é o mal. E ele percebe que não só ele quer o bem, pois pessoas que ele conhece também querem o bem nas suas vidas e na vida dos seus semelhantes, no entanto, eles estão inertes no mal, como alguém que está num pântano e não consegue sair (apesar de querê-lo ardentemente). Nesse estádio, o indivíduo sente remorso e culpa, sente a ausência de liberdade e a escravidão. Ausência de liberdade para o bem e, portanto, escravidão diante do mal.

Por outro lado, o indivíduo pode se angustiar diante do bem (e essa atitude é chamada também por Kierkegaard, de demoníaco)[14]. O angustiado diante  do bem é aquele que acha que o bem não é tão bom assim. É o indivíduo que desacreditou do bem e de sua validade. É o indivíduo que não espera mais pelo bem, posto que talvez o bem não seja ‘Bem’, ou melhor, talvez o bem nem mais exista; talvez tenha se tornado uma ilusão, pois a maldade o teria corrompido.

Para o angustiado diante do bem, a única categoria que de fato existe é o mal. O mal impera na vida dos homens e em todas as relações. O mal está patente e não há quem não o possa ver (diferentemente do bem, visto que tal indivíduo sente enorme dificuldade em enxergá-lo). Os ímpios prevalecem e, segundo Kierkegaard, o angustiado do bem crê sem sombra de dúvida de que a maldade foi tão forte, que corrompeu o bem,  o absorveu e transformou. Agora ou o bem não é tão bom assim, ou o bem é mal.

 

 

  1. e) Humor

 

O Humor é o inter-estádio entre o ético e o religioso. O humorista é aquele que se desesperou de sua angústia. Se desesperou de cumprir as normas e leis, se desesperou do bem e se desesperou do mal. Enfim, o humorista é aquele que não achou solução para o fracasso ético. Ele vê as falhas de conduta das pessoas e os erros que constantemente elas cometem, vê o sofrimento e a culpa. Mas diante de tudo isto, ele sorri. Ele sorri porque não só ele, mas todos os demais homens na face de Terra são incapazes de cumprir o ideal ético, de seguir Á risca as normas e leis estabelecidas.

Contudo haveríamos de nos perguntar como ou por quê, o humorista ri da desgraça dos outros e de sua própria desgraça. E a resposta mais adequada é a de que ele pode rir, pois para ele os erros humanos não são nada. O que se deveria fazer é relaxar e levar a vida, pois não importa o que façamos, todos já possuímos o favor de Deus.[15]

O humorista é o indivíduo que de certa forma ultrapassou o estádio ético, mas não alcançou o estágio religioso. Ele renunciou a razão e a ética como meios de conduta, mas não conseguiu se apropriar da fé e do perdão, ou do arrependimento. Segundo Gouvêa, “ ele chegou a ser trans-moral, mas infra-religioso” (GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo Paradoxo. Novo Século. São Paulo, 2000, p.219).

 

 

 

 

 

Estágio Religioso: O Indivíduo e a Verdade

 

  1. a) Verdade em Sócrates: A Ruptura

 

Objetar-me-iam aqui, o fato de ter colocado o nome de Sócrates no subtítulo deste capítulo. Contudo, o faço justamente por ser este grande pensador da Antiguidade, um dos pilares da filosofia kierkegaardiana e por ser grandemente citado em seus escritos, como que para esclarecê-los melhor. Ora, nos dirá Platão, de que só alcança a Verdade, aquele que a ama. E o amor começa pelas coisas visíveis. Começamos a amar os belos corpos, e ascendendo um pouco, amaremos os belos dizeres, os belos discursos, e ascendendo mais ainda, chegaremos ao amor ideal, o amor em sua essência. Porém, a Verdade socrática, é alcançada através da reminiscência, da recordação, e isto equivale dizer, que a Verdade em Sócrates é objeto do intelecto e da razão[16].

O problema percebido nesse conceito de Verdade, entretanto, é o problema de como o homem busca essa Verdade. Pois buscar a Verdade significa admitir que Ela não está em nós, e portanto, tal busca se fará inviável, visto que não se sabe o que se busca. Mas mesmo partindo do ponto de vista socrático, como o indivíduo buscará algo que está dentro dele, ou seja, algo que ele já conhece? Segundo esta perspectiva, a busca também se torna inviável.

Kierkegaard rompe com Sócrates nessa questão, e rompe, dizendo ser a Verdade objeto não do intelecto e da razão, mas da fé e do paradoxo. Para o filósofo dinamarquês, a Verdade é infinita, atemporal, absoluta e eterna. Sendo assim, seria racionalmente  impossível para o indivíduo, se apropriar dela. O indivíduo é o oposto da Verdade. O indivíduo é finito, temporal, não-absoluto, etc. Contudo, dirá Kierkegaard, o indivíduo pode sim apreender a Verdade.

A Verdade para Kierkegaard, seria Cristo encarnado. O Deus infinito que encarna no homem finito; o atemporal, que se apropria da temporalidade; o Absoluto que ocorre na não-absoluticidade; seria o paradoxo. Tal paradoxo se dá no instante. O instante é o momento em que a Verdade se apresenta ao indivíduo  e este, por meio da fé, consegue apreendê-la.

Somos aqui, levados a nos reportar rapidamente, à noção de discípulo e mestre em Kierkegaard. O discípulo é a não-verdade, é o finito, o limitado, o incapaz de apreender a absoluticidade da Verdade. O mestre é Cristo, – a Verdade – que se dá a conhecer ao discípulo no instante (paradoxal). A Verdade, qualitativamente maior que o indivíduo, pois este, limitado por causa do pecado, ou ignorância( para usar um termo socrático), se rebaixa a ele e deixa ser por ele apreendida.

O importante para o indivíduo, agora, proprietário da Verdade, não é a recordação, visto que antes do instante, ele nada era. Ele estava longe da Verdade e perto das coisas sensíveis estava inerte no pecado e na ignorância; ele era o não-saber, o não-ser. A Verdade paradoxalmente o alcançou e o levou a um novo ermo: do não-saber ao saber, do não-ser ao ser. E justamente por este processo de metamorfose na vida do indivíduo, é que ele não dá importância à recordação, posto que antes da apreensão da Verdade ele nada era.

Ele valoriza então o instante, que o fez saltar, pois agora, ele é. Ele é uma tensão paradoxal entre o não-ser e o ser, entre o finito e o infinito, o eterno e o temporal, o Absoluto e o contingente.

  1. b) A diferença entre o gênio e o apóstolo

 

Fala-se muito das habilidades intelectuais de Paulo, mas tratá-lo assim, é reduzi-lo ao estético. O que temos percebido com muita frequência é que os conceitos de gênio e de apóstolo se confundem. Ora, o gênio e um apóstolo se distinguem qualitativamente. O gênio diz respeito a esfera da imanência e o apóstolo ao contrário, vive na esfera da transcendência. O gênio tem seu valor por si mesmo e o apóstolo o tem, pela sua autoridade divina[17].

O pensamento que é próprio do gênio se dá na esfera da imanência, sendo provocado pela relação dos homens entre si e com o mundo. O gênio pode até passar-se por paradoxo por um instante, (estando ao mesmo tempo em sua época e à frente dela) mas esta espécie de paradoxo se dissolverá quando sua época vier a compreender o que ele diz.

Contudo, a característica principal do gênio é a de viver e se manifestar na imanência. O gênio é aquele que nasce com a potencialidade de reflexão e a desenvolve progressivamente. O apóstolo ao contrário, não nasce com a potencialidade de reflexão. Ele é escolhido por Deus e possui uma missão. Ele não é paradoxo por um instante, mas ele é sempre paradoxo. O que o caracteriza não é uma mensagem da imanência, é antes, uma mensagem da imanência-transcendência. que seus contemporâneos nunca chegarão a entender. Nem mesmo com o passar do tempo. Eles só chegarão a entendê-la pela fé, pois a mensagem proferida pelo apóstolo é sempre um paradoxo. 

O que distingue qualitativamente o apóstolo do gênio é a sua autoridade divina. Um exemplo para elucidar a questão seria a de um pensador, um poeta e um rei. Um pensador tem argumentos lógicos e uma doutrina bem fundamentada, mas nem ele, nem o poeta, tem a autoridade do rei (ainda que o pensamento deste não seja tão bem elaborado). O rei tem a autoridade e, portanto, seu mando é reconhecido. É reconhecido quer por uma carta, quer por um anel na mão do mensageiro. Mas e o que dizer do mando de Deus ao apóstolo? Objeto de fé. E os sábios julgam-no filosoficamente. Julgam e analisam a coerência de sua doutrina. No entanto, a diferença entre a argumentação e a autoridade pode ser elucidada com este exemplo: se um homem sem autoridade e um com autoridade mandarem alguém executar algo, o mandamento será igual. Mas qual deles será obedecido?

As diferenças que separam os homens na imanência serão apagadas, pois diante de Deus, todos os homens são iguais. Todos se apresentarão a Deus como iguais: como homens pecadores. A única diferença que realmente existe, é entre o homem e Deus. Diferença esta, qualitativa e que não será anulada na eternidade. E já que o grau quantitativo de um homem sobre outro será apagado na eternidade (pois pouco importa se é uma pessoa de gênio, isso não o fará maior no reino dos céus), temos de nos perguntar acerca do grau qualitativo. Este sim, não será apagado, mas perpetuará na eternidade. Se alguém tiver granjeado um, dois, ou três talentos, tais ficarão com ele (este individuo) e por eles, receberá seu galardão na eternidade.

Mas como o apóstolo provará aos demais a sua autoridade? De duas uma: ou ele apelará para a profundidade de doutrina (o que é semelhante a dizer que um filho deve obedecer seu pai não porque é seu pai, mas porque é um gênio). Ou ele pode apelar à autoridade que Deus lhe outorgou.

Notemos pois, de que a primeira opção de demonstrar a autoridade do apóstolo, é um desvio e que portanto, só a segunda opção pode de fato, demonstrar a autoridade do apóstolo. Restará aos que o ouvirem, crer ou não em tal paradoxo. Um apóstolo vive para os outros em função da mensagem de Deus, já um gênio vive para si mesmo e seu próprio deleite, em sua obra mesma.

 

 

  1. c) Um homem tem o direito de se deixar morrer pela Verdade?

 

Sobre este tema, Kierkegaard inverterá o ponto de vista. Não se perguntará se o homem teria o direito de se deixar morrer pela verdade, mas se teria o direito de fazer com que os outros homens se tornem culpados de sua morte[18].

A questão é: como Cristo, sendo todo amor, deixou que os homens se tornassem culpados de sua morte? Deveria Ele tê-lo evitado?

Ora, Cristo foi crucificado justamente, por não ter buscado em nada, o seu próprio proveito. E o que ocorreu por consequência disto, foi que ‘os poderosos odiaram-no porque o povo queria elevá-lo à realeza, e o povo odiou-o porque não queria ser rei’[19]. O povo odiou-o, pois queria fazer Dele o Messias do instante, dando-lhe glória e entronando-o. Entretanto Ele recusou-se, pois sabia que sua glória não se daria no instante, e sim, na eternidade.

O povo, oprimido politicamente, finalmente encontrara, quem o podia libertar. Porém, o povo estava embebido de orgulho e o orgulho leva ou à divinização ou ao desprezo de si. Pois eis que Aquele que o podia libertar, afirmou terminantemente, de que não tem nada que ver com a política. Que a decadência do reino, o orgulho nacional, etc não o importam, já que seu reino não é deste mundo.

Então o povo, de uma intenção não realizada, passa à outra, num pólo exatemente oposto – do entronamento à crucificação. Do amor a si, ao desprezo de si. Uma mudança brusca, que com certeza, se o povo tivesse tido tempo para respirar, não o faria.

O importante aqui é de que Cristo se declara Deus. E diante disto, só temos duas opções: ou adoramo-lO, ou inversa e bruscamente, condenamo-lO. Não há possibilidade de indiferença e nem de meio termo. E Cristo quer morrer (neste caso especifico, tal ato não é tentar a Deus, posto que está em harmonia com a vontade divina), mas para isso, é preciso que O matem. Ele quer morrer, mas não quer que ninguém se torne culpado de sua morte. Ora, Cristo quer humanamente falando, quer divinamente falando, tinha tudo para evitá-lo; mas não! Ele quer morrer e não só quer morrer, quer também que tal morte, não constitua um pecado diante de Deus. Então Ele é crucificado, sem que por isso, se tornem culpados aqueles que o condenaram. Vê-se claramente aqui, como tal atitude é paradoxal.

Mas terá um homem o direito de se condenar à morte pela Verdade? Em outras palavras: terá o homem, por dever à Verdade, fazer com que os outros se tornem culpados por seu homicídio? Pois tal homem, tendo a Verdade e a justiça a seu lado, acusa os outros de culpabilidade.

No entanto, o homem portador da Verdade, é também qualitativamente mais responsável que os outros. Ele será responsável tanto por sua escolha por se deixar condenar à morte pela Verdade, como por aqueles que o condenarem. Um homem que se deixa condenar à morte pela Verdade, talvez desperte reflexão nas gerações nas vindouras. Talvez diminua a força da mentira. Mas será que isto libertaria da acusação aquele que se deixou morrer pela Verdade?

Neste ponto, Kierkegaard diferencia Cristo dos demais homens. Os homens, além de não diferirem muito entre si quanto à posse da Verdade, também não tem um dever absoluto para com Ela. Todavia, Cristo, tanto tem um dever absoluto, como Ele mesmo é a própria Verdade. E diferentemente dos outros homens, Cristo não é culpado pelo homicídio dos seus contemporâneos, acusadores – e isto porque sua morte tem efeito retroativo: ela altera o passado, ou seja, embora os que O mataram foram condenados, em seguida, foram também,  perdoados.

Se os homens condenam alguém à morte pelo simples fato deste alguém tê-los anunciado a Verdade, pode ser por mera incompreensão. E também aqui, abre-se uma exceção para Cristo, pois Cristo sabia que não O queriam compreender por causa da impiedade de seus corações. De modo que, ‘ a parte de culpa de que se tornavam manifestamente culpados, correspondia sempre exatamente à parte de culpa que neles permanecia’[20]. Mas um homem natural não pode dizer se não o querem compreender por causa da impiedade dos seus corações, ou simplesmente por ignorância. Todavia, se responsabilizam outrem por condenar  alguém  movidos pela ignorância, não seria exagerar no juízo? O fato é que sempre que condenam alguém pela verdade, é porque não se aceita tal concepção de verdade (por entenderem que a Verdade seja outra). Então o condenam, acreditando fazer justiça. Mas será licito condená-los por ignorarem o que seja a Verdade e a justiça?

Eis o que alguém tem de fazer para se tornar mártir de sua época: Deve primeiro conhecê-la, com seus medos, suas paixões, aspirações e etc. Em seguida, fazer-se admirado, sendo para a época o que esta exige quanto ao instante, e ser ao mesmo tempo o que ela exige quanto à eternidade. Logo que se revelar de que a solução que ele veio propor, dar, à sua época, não diz respeito somente ao instante, mas dialeticamente, ao instante e à eternidade, a sua época passará da admiração à repulsão e condená-lo-á  à morte, ou mais propriamente: Ele próprio se terá condenado.

Tendo chegado a este ponto, Kierkegaard nos chama atenção para uma segunda questão: ‘ qual pode ser, em relação à Verdade, a heterogeneidade de homem para homem?’[21]. Kierkegaard quer nos mostrar, que a resposta à esta primeira questão, depende exclusivamente da resposta à segunda questão.

Supondo de que um homem possa ter a Verdade, pensemos em qual seria a culpa maior: condenar os outros pela sua morte, ou de algum modo, acomodar/modificar a Verdade para que se torne acessível aos seus contemporâneos.

Porém, longe de ser um dado homem, mais puro que os outros (estando portanto, na posse da Verdade), são todos pecadores. Sendo assim, um homem não tem o direito de se deixar condenar à morte pela Verdade. E no entanto, cabe notar, a dialética que tal afirmação pode trazer consigo, porque se um indivíduo vive numa tirania ( quer de uma pessoa, ou de uma multidão), ele pode morrer por defender a tese de que o homem não tem o direito de se deixar condenar à morte pela Verdade. Mas Cristo mudou radicalmente estes dados. Ele não era um homem, era a Verdade. E assim como a diferença entre Cristo e o homem é absoluta, assim também a dos cristãos em relação aos pagãos. Portanto, ao se falar em deixar condenar à morte pela Verdade, fala-se da relação cristianismo/não-cristianismo.

Sócrates por exemplo, não se deixou condenar à morte pela Verdade, mas levando ao extremo a ironia, foi condenado à morte por sua própria ignorância. O que Sócrates dizia, é óbvio, tinha uma dose de verdade, mas não era a Verdade Absoluta. Do mesmo modo que Sócrates possuía uma verdade relativa em relação aos seus contemporâneos, assim também, os homens entre si – quer na relação de cristão para cristão ou na relação de cristão para pagão.

Com base nisto, uma das atitudes que se pode ter, é a do indivíduo que considera de que os outros detém mais verdade do que ele. Tem-se por inferior e modela o seu juízo com base no deles (tomando-os como critério de verdade). Todavia, com Sócrates e depois do cristianismo, a Verdade é tida como estando com a minoria. De modo que o número, a quantidade, é a mentira (ela não pode servir como critério de verdade). A Verdade, está sim, em quem aponta o erro. A conclusão de tudo isto é: abre-se uma exceção à Cristo, que não podendo evitar, morreu pela Verdade, mas perdoou os homens de tal homicídio[22].

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Bosi, Alfredo e Benedetti, Ivone Castilho. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BLANC, Charles Le. Kierkegaard. Trad. Marina Appenzeller, [19--].

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* Mestre em Filosofia PUC-SP. Trata-se de uma adaptação de minha monografia do curso de graduação em filosofia feita na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

2 BLANC, Charles le. Kierkegaard. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, 2003, p.55-57.

[3] MESNARD, Pierre. Kierkegaard. Trad. Rosa Carreira. Rio de Janeiro: Biblioteca Básica de Filosofia, [19-- ], p. 24- 25.

[4]  Cf. BLANC, Charles le. Kierkegaard. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, 2003, p. 56-57.

  1. Cf. KIERKEGAARD, S. Aaybe. Either/Or (Part II). Trans Howard & Edna Hong Princeton, NJ: Princeton University Press, 1987, p. 178.
  2. Ibid., p. 204.

 

[7] C.f. KIERKEGAARD, Sören. O Matrimônio. Trad. Rodolfo Konder. Ed. Laemmert S.A. Rio de Janeiro 1969, p.33.

[8] Cf. KIERKEGAARD, Sören. O Matrimônio. Trad. Rodolfo Konder. Ed. Laemmert S.A. Rio de Janeiro 1969, p. 34.

[9] Ibid., p. 63-87.

[10] Ibid., p. 36-38.

[11] Cf. GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo Paradoxo. Ed. Novo Século, São Paulo, 2000, p. 213.

[12] Ibid., p. 116.

[13] KIERKEGAARD, Sören. O Conceito De Angústia. Trad. Torrieri Guimarães. Hemus, São Paulo, 1968, p. 117, 118.

[14] Ibid., p. 122-124.

[15] Cf. GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo Paradoxo. Novo Século. São Paulo, 2000, p. 219.

[16] Cf. PAULA, Márcio Gimenes de. Socratismo e Cristianismo em Kierkegaard: o escândalo e a loucura. São Paulo, 2001, p. 65-68.

[17] Cf. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa, 1986, p. 157-173.

[18] Cf. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa, 1986, p. 125-156.

[19] Ibid.,p.130.

 

[20] Cf. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa, 1986, p. 142.

[21] Ibid., p. 150.

[22]  C.f. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. Lisboa, 1986, p. 155.