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Observador

Macroeconômico

A Janela está aberta

(*) Valter Pereira Appas

 

O enfraquecimento do dólar no mercado internacional em razão dos déficits gêmeos nos Estados Unidos abre uma janela de oportunidade única para o Brasil. Como nossas contas externas estão superavitárias em patamares acima de US$ 10 bilhões, é hora de recompor reservas e diminuir o nosso endividamento externo, dois calcanhares de Aquiles que debilitaram o país nos últimos 30 anos. Com reservas mais robustas e uma dívida externa menor em relação ao PIB, teremos muito mais margem de manobra para consolidarmos políticas estruturantes que permitirão um crescimento sustentável de longo prazo, condição “sine qua non” para a verdadeira inclusão social daqueles brasileiros que ainda vivem à margem do desenvolvimento.

O Branco Central tem intervindo no mercado de câmbio nas últimas semanas numa tentativa, até agora infrutífera, de frear a apreciação do real em relação à moeda americana. Essa ação, porém, tem apenas o objetivo imediatista, mas não menos louvável, de assegurar a competitividade de nossas exportações. Entretanto, o momento exige mais audácia e visão de longo prazo, há liquidez no mercado para intervenções mais ousadas, com o objetivo firme de recomposição das reservas, que em última análise, reforçarão no futuro a posição brasileira no instável mercado financeiro internacional. A China deve em muito a sua performance econômica à robustez de suas reservas, que ultrapassam atualmente os US$ 400 bilhões. Durante décadas a fragilidade externa das contas brasileiras foi um entrave ao nosso crescimento, a conjuntura atual é uma rara oportunidade de eliminarmos esse obstáculo, mas para isso é preciso uma ação decisiva da autoridade monetária e não apenas ações tímidas e sem objetivos claros, como têm sido adotadas. Será imperdoável, ainda mais a um governo que se intitula de esquerda, perder a chance de fortalecer a posição do Brasil diante da banca internacional.

(*) Valter Pereira Appas, autor desta coluna, é historiador, especializado em História Econômica do Brasil, professor de Geopolítica e Economia

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