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O  Ente e a essência em S. Tomás de Aquino

‘’A fé constitui um certo antegozo daquele conhecimento que nos fará felizes no futuro.’’

(S. Tomás de Aquino, Compêndio de teologia, cap. II -3, p. 77, Col. Pensadores)      

Para Tomás de Aquino, a filosofia soluciona os problemas da vida, por ser essencialmente uma ciência teórica. Ela é totalmente distinta da teologia, mas não se opõe a esta, a filosofia dá o conhecimento da evidência e da razão e a teologia o da revelação de Deus.

Assim o conhecimento é sensível e intelectual, o intelecto pressupõe os sentidos sobre os quais exerce sua atividade, transcendendo-os, pois capta profundamente a natureza das  coisas.

Os sentidos captam o objeto sem sua matéria, sua imagem e sua forma, temporalidade, espacialidade. O intelecto apreende a forma universal, a essência está potencialmente contida potencialmente contida na coisa, a função do intelecto é abstrair e desinvidualizar essa essência, tendo-se assim o conhecimento.

Segundo Tomás de Aquino o fim último do conhecimento, capaz de saciar a mente humana e completar a filosofia é o conhecimento de Deus; ainda que não possa ‘’...ele ser definido, em razão de sua simplicidade. Seja ele a meta e o remate dessa nossa exposição...’’(Idem, cap. V II, P. 22 ).

Ainda segundo ele, é partindo do conceito de ente que se atinge a essência. A essência (qüididade) é o inefável que possibilita a existência, o que define uma coisa dando-lhe ser. A existência é a possibilidade de uma coisa existir em ato, corresponde aos seres criados, nos quais a composição entre matéria e forma dá a realidade.

Tomás de Aquino toma o conceito de essência de modo diverso do sentido aristotélico por ele discordar de um sentido de Deus como o primeiro motor imóvel. Ele acreditava em um Deus criador, cuja essência é existir, ao qual nada falta, pois se algo lhe fosse acrescentado pressuporia uma limitação que não cabe a Deus, ser pleno – a pura perfeição.

Para Tomás, o ente se entende em duas acepções: substância primeira e substância segunda. A substância primeira (própria), é o primeiro sentido do ente, da qual tudo se predica, mas que de nada é predicada. A substância segunda  (acidente), segundo sentido do ente, é aquela a qual não se pode predicar, por nada acrescentar às coisas (Vide: TOMÁS DE AQUINO. O Ente e a essência, in Pensadores, São Paulo. Nova Cultural, 1978).

A essência participa igualmente nas duas substâncias, e a causa da substância composta, o próprio ente, a existência, é ‘’...aquela substância primeira e simples por excelência, que se denomina Deus’’ (Idem, p. 10).

A substância segunda (coisas abstratas) comporta o gênero e a espécie, a essência participa dos dois. A essência não participa individualmente da matéria ou da forma, encontra-se em ambas, compondo no mundo das coisas sensíveis a individuação.

Tomás de Aquino estabelece ainda dois tipos de matéria: matéria signada, que é substância primeira, particular, concreta, singular, de menor extensão. Matéria não signada, que é substância segunda, universal abstrata, de maior extensão.

‘’É evidente que a definição de homem em geral, e a deste homem chamado Sócrates, só se diferenciam pelo signado e o não signado’’.(Idem, cap. III – 1, p. 11) .

Visto não ser possível predicar uma coisa de maior extensão de outra de menor extensão e nunca o contrario, predica-se o todo (gênero, espécie, corpo, Deus) da parte. Do indivíduo só se pode predicar a espécie, como por ex.: Sócrates, (parte) é homem (todo). Da espécie pode-se predicar o gênero, já que gênero possui maior extensão em relação à espécie: homem (parte) é animal      (todo).

Segue-se que a parte não se predica da parte, ou seja, não se predica parte de diferença específica pois, se assim o fosse, incorreríamos numa seqüência infinita de predicações e não se chegaria a compreensão de Deus, como por ex.: o homem (parte) tem humanidade (parte).

‘’Com efeito, se o animal não fosse o todo que é o homem, mas apenas uma parte dele, não se poderia predicar dele, já que nenhuma parte integral se predica de seu todo’’ (Idem, cap. III, p. 11). Logo, tudo o que se encontra na espécie participa do gênero, se não houver mais indivíduos não haverá mais espécie humana, assim, deixará de existir o gênero animal racional, tampouco o corpo que engloba o gênero, a espécie o indivíduo, apenas Deus continuará existindo.

O todo se encontra na parte, mas a parte não se confunde com o todo: Sócrates que é parte é Deus que é o todo, mas Deus não é Sócrates, ele (Sócrates) possui uma parte de Deus, participação, mas não é Deus. É que a essência de Deus difere da essência do indivíduo, a essência de Deus é a sua existência, ele só pode ser definido por analogia e no sentido menos próprio.

A essência está em potência em relação à existência, bem como a matéria está em potência para a forma; para que haja finalmente a união entre a essência e existência faz-se  necessário o ato criador de Deus.    

Finalmente, de acordo com Tomás de Aquino, o homem busca algo que vai completá-lo fora dele: Deus. Se o homem fosse semelhante ao criador ele nada teria que buscar, mas, em sendo o homem criatura em busca de perfeição, não possui em si a mesma essência de Deus, vez que se assim fosse, estaria negando a perfeição divina. Sucede, assim, que o homem apenas busca aquilo de que carece; o conhecimento da grande essência que é Deus, o fim último para qual é direcionada sua busca. ‘’Quanto à unidade da essência divina, a primeira coisa a crer é que Deus existe, o que alias é obvio a própria razão’’ (Idem, cap. II, p. 77).

         Dalva de Fatima Fulgeri

Licenciada em Filosofia/Unisantos

 

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