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Coluna do Leitor

Mito: Sentido e Significado

A alma humana anseia por desvendar a natureza dos deuses, do cosmo e de si própria. O mito é um modo de aquietar a alma diante dessas realidades que não se consegue alcançar. Assim, todo mito é uma tentativa de interpretação da realidade e não simplesmente uma fábula ou lenda, pois enquanto experiência, particular ou generalizada, ele amplia o contexto da vida proporcionando modelos mais universais para o significado das realizações humanas.

Como caminho ontológico, o mito revela e fixa os padrões significativos de todas as atividades humanas, pois ao realizar o irracional no pensamento humano, desperta o desejo de aventura em direção ao que é aparentemente obscuro, permitindo a participação no ato total da criação.

Comumente se encontram elementos análogos na composição dos mitos nas mais variadas culturas: a água, por exemplo, aparece geralmente como elemento primordial ou como sede da vida do deus criador; o abismo, as trevas, o caos, são elementos comuns nas diversas sociedades.

Há, entre os indígenas brasileiros, uma história de que no princípio só havia a luz, porquanto a escuridão encontrava-se encerrada no interior de um coco que ao ser transportado por dois bravos para um local distante, foi partido por eles diante de um barulho estranho em seu interior que lhes despertou a curiosidade, libertando a escuridão. Imediatamente o mundo mergulhou em trevas. Somente com a intervenção de Tupã o equilíbrio foi restaurado, e foi assim que passou a existir o dia e a noite.

Analogamente, entre os gregos antigos, acreditava-se que a noite era uma ave negra de asas imensas que pôs um ovo de prata no seio da escuridão original. Nesse ovo, encontrava-se guardada Fanes, a Luz, que acabou libertada pelo desejo incontido de Eros, o Amor Universal, pois este necessitava de sua luminosidade abaixo e acima do Céu para completar seu ato de criação da Natureza.

Assim, mito é praticamente tudo que o homem cria. Não como sonho ou magia, mas como revelação instantânea do insondável. Ele é a via que o homem imaginou para atingir os mistérios da existência. Desconhecido ao molde lógico da compreensão, o mito, entretanto, não deve ser considerado como produto de uma atividade secundária e subordinada do intelecto, vez que a linguagem mítica é um permanente dialogar com a realidade e o homem está sempre presente nessa realidade. E antes mesmo de qualquer representação, o mito é a própria existência, o concreto, o real na sua percepção máxima.

O mito transporta o homem para um novo domínio de onde pode vislumbrar um novo sentido, uma nova experiência, uma esperança de imortalidade. Enfim: quiçá a reconquista do paraíso...

 

Dalva de Fátima Fulgeri