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América-Latina: uma Filosofia em construção

 A América Latina foi, e ainda o é, instrumento de dominação dos povos do hemisfério norte, mais precisamente dos europeus e, depois da 2ª Guerra, também dos E.U.A. Esta é a conclusão a que se chega "revisando" a história da humanidade e, sobretudo, o século recém-passado. Mas o homem latino-americano não é um simples consumidor, ele reúne condições para pensar e se propõe a isso. Todavia, para tanto, a América-Latina ainda que tenha tido uma colonização européia, não pode se limitar a estudar o pensamento europeu, como lhe é proposto na maioria dos centros educacionais, pois aquele está fundamentalmente vinculado à realidade européia e voltado para os seus problemas.

É necessário ir além, extrapassar os limites do pensamento europeu e informar um novo pensamento, intrinsecamente ligado à realidade Latino-Americana, fazendo, assim, erigir uma nova Filosofia – a Filosofia Latino-Americana, fundada numa reflexão capaz de extirpar os desvios éticos herdados desde os gregos antigos, mediante um processo de reconstrução  em que se valorize os elementos culturais identificadores do povo latino-americano.

Esta necessidade faz-se presente porque ao estudar  a Filosofia européia, corre-se o risco de se criarem filósofos latino-americanos inautênticos, vinculados a uma realidade, mas discursando com fundamento em outra, o que promove, por conseguinte, a desconexão entre o pseudo-pensamento  latino-americano – verdadeiramente europeu – e o agir do homem latino-americano. Mas não se poderia, ingenuamente, a partir desta concepção, pretender-se criar uma Filosofia latino-americana totalmente liberta da já existente e historicamente impingida ao homem latino-americano – seria impossível, pois tal filosofia é a que foi aplicada durante todo o período de formação dos povos daqui. Por isso sobreleva a necessidade de imersão total em busca da raiz filosófica e, a partir daí, começar a emergir, atingir a superfície para, então, lançar-se ao movimento livre de um novo ideário.

Destarte, entendo ser imperioso o resgate do pensamento original da nossa civilização contemporânea, o grego antigo, sobretudo no tocante à Ética, posto que um dos temas centrais passa, inexoravelmente, pelo comportamento do homem diante do outro.

Fica, assim, a partir desta minha primeira intervenção, lançado o convite ao leitor para acompanhar e participar desse processo de re-construção filosófica, durante o qual nos socorreremos de todos os pensamentos que se nos aclarem, e nos secundaremos, sobretudo, de Enrique Domingo Dussel, filósofo contemporâneo autenticamente latino-americano. 

Luiz Meirelles,

Bacharel em Direito e Licenciado em Letras e Filosofia (Unisantos); Mestrando em Filosofia (PUC/SP) e Presidente do Centro de Estudos Filosóficos de Santos–CEFS.